Mesmo com as janelas fechadas, o som da chuva estava muito nítido. Parecia que os pingos esbravejavam dentro do quarto. Desenhava, quando deixei cair de cima da cama um lápis-de-cor. Enquanto ele ainda não alcançava o chão, consegui olhar bem pra sua ponta vermelha afiada e bem feita. Estava perto, poderia alcançá-lo, mas não o fiz. Deixei cair, o vi caindo...Como num minuto de segundos eternos... Ele soltou de meus dedos e seguiu a expectativa da gravidade.
Iria tocar o chão, quebrar a ponta, estilhaçar por dentro... Mas não o impedi de soltar da minha mão e cair. O deixei cair...
Quanto mais se aproximava do piso, mas inerte e aparentemente apática estava, meus olhos o fitavam, com um certo arrependimento postiço. Talvez quisesse mesmo que caísse e quebrasse a ponta em mil pedacinhos, mas não queria vê-lo inútil, machucado. Apenas.... O deixei cair...
No instante da aterrizagem inevitável, como se esperava, o vi quebrar. Partir ao meio. E eu ali, sentada, ainda inerte. Apenas o olhei, de cima da cama, ainda com os desenhos entreabertos. Ali, acolchoada, minha alma contrastava com a turbulência da chuva, que assim como o meu lápis de cor, caia lá fora.
Descruzei as pernas. Ameacei pôr o pé direito pra fora da cama. Algum pensamento tentou nascer por dentro, mas antes mesmo que pudesse vir ao Mundo das Ideias, meu corpo seguiu o entrelace natural de meus instintos, e como n'um balé pré-visto das cinzas, pisei nos pedaços vermelhos da ponta do lápis que se espalharam pelo chão.
Pisei neles, ali de cima.
It felt so good...
A púrpura da ponta se misturava com algumas gotas de chuva que adentraram o quarto.Se misturava como uma canção, e meus dedos eram o maestro. Dissolvi todo o vermelho naquelas manchas de água até se tornarem poças ensanguentadas.
Dentro do meu quarto, em cima de minha cama, transformei a chuva n'um poço de vinho.
Iria tocar o chão, quebrar a ponta, estilhaçar por dentro... Mas não o impedi de soltar da minha mão e cair. O deixei cair...
Quanto mais se aproximava do piso, mas inerte e aparentemente apática estava, meus olhos o fitavam, com um certo arrependimento postiço. Talvez quisesse mesmo que caísse e quebrasse a ponta em mil pedacinhos, mas não queria vê-lo inútil, machucado. Apenas.... O deixei cair...
No instante da aterrizagem inevitável, como se esperava, o vi quebrar. Partir ao meio. E eu ali, sentada, ainda inerte. Apenas o olhei, de cima da cama, ainda com os desenhos entreabertos. Ali, acolchoada, minha alma contrastava com a turbulência da chuva, que assim como o meu lápis de cor, caia lá fora.
Descruzei as pernas. Ameacei pôr o pé direito pra fora da cama. Algum pensamento tentou nascer por dentro, mas antes mesmo que pudesse vir ao Mundo das Ideias, meu corpo seguiu o entrelace natural de meus instintos, e como n'um balé pré-visto das cinzas, pisei nos pedaços vermelhos da ponta do lápis que se espalharam pelo chão.
Pisei neles, ali de cima.
It felt so good...
A púrpura da ponta se misturava com algumas gotas de chuva que adentraram o quarto.Se misturava como uma canção, e meus dedos eram o maestro. Dissolvi todo o vermelho naquelas manchas de água até se tornarem poças ensanguentadas.
Dentro do meu quarto, em cima de minha cama, transformei a chuva n'um poço de vinho.