O vício era simples: Reler cartões postais antigos-
E lamber o selo.
Não por nada específico. Apenas queria relembrar grafias de pessoas conhecidas
Outrora próximas... Queridas -
E lamber o selo.
A madrugada sempre lhe trazia um mormaço pegajoso,
Uma nostálgica calmaria,
Toda ela, n'alma embebida
E uma vontade louca, descabida!
de lamber o selo.
Nada mesmo em todo mundo responderia
O por que de tanto lodo.
Esse querer que nutria
Essa sua boba mania
de lamber o selo.
Pós toda a métrica habitual e ritualística,
Algumas lágrimas se misturavam
Ao suor de seus dedos,
Ao teor de seus medos,
À laços, À unhas, À pelos, cabelos -
Saliva de cada lambida
que dera
no selo.
E o glacê desse poço
Era o que dava gosto
Ao presente-passado-selado
E o dia cada de nosso pão que seguia
sem vontade,
sem graça,
sem selo -
Sem vida.